quarta-feira, 24 de outubro de 2018

ANPOCS: MOMENTO ENTREVISTA

Sobre as vadias...



Com a palavra, a pesquisadora Carla de Castro Gomes, doutoranda da UFRJ.

                                                                                                       
                                                                            Por Roberta Nogueira 







Ø  O Teto: Sobre o termo “vadia” e o seu uso pelo Movimento.

Ø  Carla de Castro Gomes (UFRJ): É um uso que tenta justamente evidenciar o caráter normativo que existe na palavra “vadia.” Então quando se apropriam desse termo, os movimentos feministas tentam mostrar essa dupla moral que existe e regula o comportamento de homens e mulheres: a ideia de que as mulheres não devem ter vários parceiros, não devem usar determinadas roupas, não devem expor muito os seus corpos e sua sexualidade, enquanto que para os homens isso não seria problema. “Vadia” é um termo acusatório usado para mulheres que quebram essas expectativas muito tradicionais, de gênero, mas quando falado, empunhado pelas feministas é uma forma de tentar questionar essa dupla moral, questionar essas regras de gênero que limitam, controlam a sexualidade das mulheres.

Ø  O Teto: Sobre a importância política e social da Marcha das Vadias.

Ø  Carla: Eu considero a Marcha das Vadias, junto com outras pessoas que também estudaram o assunto, uma das expressões recentes mais importantes do feminismo não só no Brasil, mas no mundo. Como eu disse, ela aconteceu em mais duzentas cidades pelo mundo, levou milhares de pessoas para as ruas; e no Brasil, esse sucesso de público foi estrondoso, ocorreu em muitas cidades, teve muita visibilidade midiática. Muitas mulheres jovens, que não tinham antes participado de nenhum movimento social ou de nenhum movimento feminista, começaram a se engajar politicamente a partir da Marcha das Vadias. E mesmo quando essa marcha deixou de existir em muitas cidades, essas redes de mulheres, que se formaram ao redor da Marcha, continuaram existindo. E continuam bastante atuantes em outros coletivos ou na universidade. E isso foi algo que marcou muito as biografias individuais e coletivas de muitas mulheres_ e de outros sujeitos também.

Ø  O Teto: Diferentes vertentes feministas se sentem representadas pela Marcha das Vadias? Como isso se dá exatamente?

Ø  Carla: A Marcha das Vadias teve uma capacidade muito grande de atrair pessoas, especialmente mulheres jovens, que nunca tinham participado de protestos feministas, mas ela também trouxe muita polêmica, controvérsia, disputa entre feministas. Muitas não se sentiam contempladas pelo uso da palavra “vadia”, pelo uso da nudez e da exposição do corpo, por essa coreografia de protesto que enfatiza a sexualidade, o deboche, a paródia. Foram muitas as críticas em todo o mundo, de mulheres negras que não se sentem contempladas pelo termo, que acreditam que essa não é a melhor forma de abordar a sexualidade das mulheres negras, com esse tipo de coreografia e de vocabulário político. Houve também muitas críticas de feministas mais velhas, que valorizam outros repertórios de protesto e não viram “com muitos bons olhos” essas coreografias, o uso do nome, da nudez, achando que isso acabaria estigmatizando o movimento feminista.

Então essas tensões estão presentes o tempo inteiro na Marcha das Vadias, em todos os lugares onde ela aconteceu. Vejo que a Marcha das Vadias acabou sendo um espaço também para discutir essas tensões: raciais, de classe, sexualidade. A Marcha acabou pela via do conflito também sendo um espaço de discussão dessas questões que são tão importantes para o Feminismo.






Fotos: Stephano Nogueira
Apoio: Joana D'Arc Ribeiro


ANPOCS 2018: em Caxambu, MG







ANPOCS em foco: Mostra de Filmes 2018


 Sobre o açaí dos Wayana 


                                                                                           Por Roberta Nogueira




O ancião aos pés da grandeza do açaí. Neto e avô. O descendente a beber do sabor de memórias que também são suas. O avô falando da música perdida no tempo e na história de seus ancestrais. 

Cena do filme "Wapu: o açaí dos Wayana" (2017) de André Lopes e Tyna Apalai Wayana


E "wapu, wapu" se descobre canção, que nutre as novas gerações _ em honra a um canto primeiro, ao povo que tudo começou. Uma alegria inocente, quase ingênua molda o sorriso dos jovens que nos cantam Wapu. No estúdio, na floresta, na descoberta do fruto e na partilha da longa busca da floresta, eles contam sua história. E nos encantam_ assim.