sábado, 6 de abril de 2013

Com a Palavra...






Estou contratando uma doméstica com as qualificações necessárias ao cargo. Pago todos os direitos. Que ela saiba cozinhar razoavelmente, passar e arrumar a casa. Não precisa ser exímia pianista. Basta tocar um pouco de Chopin, meu preferido. Ela toca e eu escuto e depois eu toco Beethoven e ela escuta. Pau a pau. Serão seis horas de trabalho e duas de piano para que possamos relaxar. Ela de tanto trabalho, da preocupação de chegar na hora, de dar tantas explicações pelo atraso da condução, de assinar ponto de entrada e saída, não porque eu exija, mas porque lei é lei, e eu de controlar tudo, de verificar as horas, de cuidar para que ela não trabalhe na hora do descanso, de viver com o lápis na mão fazendo contas e mais contas de hora extra, de abono, de adicional noturno, de INSS, FGTS, multas e outra besteirinhas, mas pois, de dona de casa me transformei de repente em empresária sem ter empresa. Tô lascada! Depois tomaremos o chá das cinco com bolinhos que farei, ela sendo minha convidada, pois depois das oito horas nem um copo d'água posso pedir mais a ela. Acho certíssimo. Lei é lei. Todo mundo tem que ter os seus direitos trabalhistas. Estou esperando os meus. Os direitos da dona de casa. Quando a presidente vai regulamentar isso? Tenho 42 anos de trabalho ininterrupto. Fui cozinheira, lavadeira, babá, professora, motorista, psicóloga, administradora, economista e ainda tenho várias destas funções e muitas vezes tem alguém que ainda acha que sou dondoca e que vivo pendurada no telefone. Isso é caso de polícia! Estou vendo a hora morrer e a lei que favorece a dona de casa não é aprovada. Preciso urgentemente ouvir Chopin!

Fonte: Facebook


Um comentário:

  1. Amei, Beni!!!! Só você é capaz de encontrar palavras tão exatas para as pequenas crônicas do dia-a-dia.
    Parabéns, amiga!
    :D
    Bjooo!

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