domingo, 7 de abril de 2013

Crônica do Teto



 


                                                                                                            Dorothy Coutinho
          


COLESTEROL É VIDA - OU DE PERTO NINGUÉM É NORMAL


Se você pensa que é sadio, é porque não procurou direito sua doença.
Falo principalmente da “doença mental”. Aliás, expressão pouco usada, porque o chique agora é “transtorno”, “desordem” ou “distúrbio”. 

A tendência é não sermos mais vistos como responsáveis pelos nossos próprios atos. O sujeito é assaltado porque lhe faltaram oportunidades de acesso à educação, ou porque foi vítima de bullyng e tantos outros indicadores, sempre com resultados de uma formulação manipulada, onde nem sempre as relações de causa e efeito têm uma base sólida. O pior é que elas resistem até mesmo a obvia verdade de que a grande maioria dos que enfrentaram ou enfrentam momentos difíceis não é de delinquentes. 

No terreno da psicanálise de boteco que tem o condão de adaptar suas explicações, o sujeito que surra mulher e filhos é porque foi também surrado pela mãe, ou do outro que não foi surrado e nem sequer advertido, ou seja, foi negligenciado, mas com efeitos também desastrosos. E o número de transtornos e desordens só aumenta. Surgem os novos “pacientes”, gente que agora padece de síndromes antes nunca descritas. 

E os males do espírito que não geram sintomas físicos, ou, se geram, são de difícil definição? O diagnostico vira conceitual e subjetivo e fica assim, um papo de maluco: “eu acho que você está deprimido porque acho que seu quadro configura o que eu acho que é depressão”.
Não há mais preguiça, não há mais agressividade. Há transtornos, desordens de atenção, só desordens. As emoções antes normais em qualquer ser humano podem se revelar em algum transtorno. Vai depender do freguês e da moda psiquiátrica corrente.
Não se fica mais triste, fica-se deprimido. Não se fica mais ansiosa, fica-se com distúrbios de ansiedade. 

Chegamos sem notar, ao ponto em que todo indivíduo, se confrontado com um hipotético “padrão normal”, será portador de vários transtornos. É o caso de se pensar que assim como a infância e a falsa descoberta de um número alarmante de bebês portadores de transtorno bipolar, passou a ser uma doença, a puberdade, a adolescência, a jovem maturidade, a meia idade e a velhice é tudo doença também. Ninguém escapa, porque o objetivo é englobar. 

O problema não é a ciência decretar que, de uma forma ou de outra, somos todos malucos. Isso todo mundo sabe. O problema é quando eles decidem qual é a nossa maluquice e nos forçam a uma normalidade que não queremos e nem temos por que aceitar. Assim, podemos ser forçados a agir “normalmente” ou considerados insanos, se discordarmos da normalidade oficial.
Tenho medo de não me encaixar na portaria da ANVISA que define a normalidade, já que de perto ninguém é normal! Eu só sei que colesterol é vida!!!   

 


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