quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Meu eu perdido






Autoria: Solange dos Santos Brochado 

Quando era criança e demorava para adormecer escolhia meu mundo. Possuía vários. E cada noite entrava em algum. Era interessante esse modo de escape da realidade que muitas vezes tentava fugir. E como minha realidade não fugia de meus pensamentos ia buscando os mundos. Eram todos muito diferentes. Em um eu era uma medieval e morava em um lugar lindo cheio de flores, objetos antigos. Usava roupas estranhas. Vestes de rendas, coisas do passado que eu usava. Vivia ao redor de pessoas antiquadas, mas agradáveis e me sentia em um paraíso. Era filha de outro pai. Era pertencente a uma outra família que não era a minha. Já fui criança, adolescente, jovem, velha. Já morei em lugares estranhos, mas me faziam adormecer quando ia para eles. E eram tantas pessoas diferentes! Era tanta coisa. E às vezes não era ninguém. Mas me sentia tão feliz! Mesmo sem ser nada. E trocava de mundos. E trocava de família e trocava de amigos. E trocava de mim mesma... E continuava a trocar. Amava quem não me queria. E quem me queria eu não me interessava. E meus infinitos mundos se repetiam muitas vezes. Visitava os prediletos com frequência maior. E ia conhecendo gentes que nunca havia tido contato. Mas eram meus parentes desde criança. E me faziam contente. Ainda visito esses mundos e me confundo. Parece até imaginação. E não entendo e nunca vou entender como me adaptava tão bem a todos esses mundos e ainda me adapto. É como se eu tivesse outras vidas além dessa. É como não ter sentido ser o que sou e estar por aqui.

Um comentário:

  1. Obrigada, amiga Roberta, por estar divulgando aquilo que escrevo. Parabéns pelo seu Blog!

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