AQUELA
BOLSA!
Por Dorothy Coutinho
Costumo
caminhar nas manhãs ensolaradas contra o vento gelado de outono no calçadão da
cidade.
Numa
dessas manhãs mudei de rumo e fui andar na calçada da rua onde estão
localizadas as butiques de marcas famosas. O cartaz “40% de desconto” – no
interior da loja me chamou a atenção e, naquele esquema “só estou dando uma
olhada” fui curiosamente entrando.
Lá
dentro, próximo a um dos balcões, uma mulher se apossa efusivamente de uma
bolsa como se tivesse encontrado o Santo Graal, tamanho o seu afã. Não é
linda?? – Disse ela à filha. Agarrada à bolsa frente ao espelho, ela virava de
um lado, de outro, de meio, de frente, extasiada com a própria imagem
carregando aquela bolsa caríssima, de couro azul-celeste com umas 256 tachas
pretas e 50 franjas. Eu já vi bolsa feia nesta vida de Jesus Cristo, mas como
aquela, nem nos meus piores pesadelos.
Mas
a criatura ficou apaixonada pelo raio da bolsa e mostrava a etiqueta com o
preço para a filha e dizia – “e nem é tão cara!”. Preço na etiqueta: 430 reais.
Nem
é tão cara??? A loja deveria estender um tapete vermelho e chamar banda de
música para quem levasse aquele troço por três reais.
E
a mulher voltava ao espelho, experimentava a bolsa, levo ou não levo?
E
eu lá no cantinho vendo as “promoções”, tive vontade de cutucar o ombro dela e
dizer pelamordedeus não faça essa loucura, olhe em volta, tem bolsa muito mais
bonita, com mais classe, mais usável e de preço mais baixo. Deixe essa coisa
medonha prá lá. Ficou na minha vontade, é claro. Não me meti e sai rapidinho da
loja antes de ver a tragédia consumada.
Mau
gosto, bom gosto. No politicamente correto cada um tem o seu e fim de papo. Mas
acho que não é bem assim. Existe um diferencial, o que não impede que pessoas
de bom gosto errem e pessoas de mau gosto acertem – de vez em quando!
Tem
quem defenda o pressuposto de que o bom gosto se aprende, já que uma pessoa só
começa a gostar do que é bom quando adquire bagagem cultural ou quando tem a
humildade para observar pessoas e lugares sofisticados extraindo daí a
informação necessária para compor o seu próprio bom gosto. Bom gosto e mau
gosto custam a mesma coisa, aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro.
As
interpretações variam. Eu não troco uma charmosa bolsa de palha por uma de
grande grife. Não duvido que menos é mais. Sempre caprichei ao me vestir sem me
deixar monitorar por grifes, ao manter minhas unhas limpas, na mania dos
abajures em vez de luz direta, nas minhas atitudes profissionais e até na
bagunça doméstica, que uma baguncinha também tem seu charme. Aprendi a
valorizar o estilo “não sou rica, sou chique” e o saldo foi positivo com uma
pequena porcentagem de deslizes todos aceitáveis. É só treinar o olhar para as
coisas mais simples. E desviar de outras. Como aquela bolsa!!!!!!! Aquela bolsa!
Bela história!
ResponderExcluirA moral que fica é seguinte: independente de qualquer coisa e por mais estapafúrdio que seja o gosto alheio, temos que respeitar, e sempre.
Abraços e sucesso no seu blog Roberta!!!
Com certeza, Wellington!
ExcluirObrigada por prestigiar meu espaço.
A autora vai adorar os elogios!
Abração!
Roberta Nogueira
Que conto inteligente!
ResponderExcluirAdoro histórias que nos deixam mensagens.
Parabéns pelo blog Roberta!
Beijos
Obrigada, Denise! A Dorothy vai adorar seus comentários.
ExcluirSeja muito bem-vinda ao Teto! Fique à vontade por aqui, o espaço também é seu, amiga. :)
Beijos,
Roberta Nogueira
Uma graça a Dorothy e muito criativa sua escrita... bj.
ResponderExcluirConcordo com você, Gerusa! Rssss... E agradeço o carinho da visita.
ResponderExcluirVolte sempre, amiga! Você é sempre bem-vinda aqui no Teto. :)
Bjsss,
Roberta Nogueira