quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

O Teto em Conto


AQUELA BOLSA!



                                                                                                 Por Dorothy Coutinho


Costumo caminhar nas manhãs ensolaradas contra o vento gelado de outono no calçadão da cidade.

Numa dessas manhãs mudei de rumo e fui andar na calçada da rua onde estão localizadas as butiques de marcas famosas. O cartaz “40% de desconto” – no interior da loja me chamou a atenção e, naquele esquema “só estou dando uma olhada” fui curiosamente entrando.

Lá dentro, próximo a um dos balcões, uma mulher se apossa efusivamente de uma bolsa como se tivesse encontrado o Santo Graal, tamanho o seu afã. Não é linda?? – Disse ela à filha. Agarrada à bolsa frente ao espelho, ela virava de um lado, de outro, de meio, de frente, extasiada com a própria imagem carregando aquela bolsa caríssima, de couro azul-celeste com umas 256 tachas pretas e 50 franjas. Eu já vi bolsa feia nesta vida de Jesus Cristo, mas como aquela, nem nos meus piores pesadelos.

Mas a criatura ficou apaixonada pelo raio da bolsa e mostrava a etiqueta com o preço para a filha e dizia – “e nem é tão cara!”. Preço na etiqueta: 430 reais.

Nem é tão cara??? A loja deveria estender um tapete vermelho e chamar banda de música para quem levasse aquele troço por três reais.

E a mulher voltava ao espelho, experimentava a bolsa, levo ou não levo? 

E eu lá no cantinho vendo as “promoções”, tive vontade de cutucar o ombro dela e dizer pelamordedeus não faça essa loucura, olhe em volta, tem bolsa muito mais bonita, com mais classe, mais usável e de preço mais baixo. Deixe essa coisa medonha prá lá. Ficou na minha vontade, é claro. Não me meti e sai rapidinho da loja antes de ver a tragédia consumada. 

Mau gosto, bom gosto. No politicamente correto cada um tem o seu e fim de papo. Mas acho que não é bem assim. Existe um diferencial, o que não impede que pessoas de bom gosto errem e pessoas de mau gosto acertem – de vez em quando!

Tem quem defenda o pressuposto de que o bom gosto se aprende, já que uma pessoa só começa a gostar do que é bom quando adquire bagagem cultural ou quando tem a humildade para observar pessoas e lugares sofisticados extraindo daí a informação necessária para compor o seu próprio bom gosto. Bom gosto e mau gosto custam a mesma coisa, aliás, o mau gosto às vezes custa até mais caro. 

As interpretações variam. Eu não troco uma charmosa bolsa de palha por uma de grande grife. Não duvido que menos é mais. Sempre caprichei ao me vestir sem me deixar monitorar por grifes, ao manter minhas unhas limpas, na mania dos abajures em vez de luz direta, nas minhas atitudes profissionais e até na bagunça doméstica, que uma baguncinha também tem seu charme. Aprendi a valorizar o estilo “não sou rica, sou chique” e o saldo foi positivo com uma pequena porcentagem de deslizes todos aceitáveis. É só treinar o olhar para as coisas mais simples. E desviar de outras. Como aquela bolsa!!!!!!! Aquela bolsa!





6 comentários:

  1. Bela história!

    A moral que fica é seguinte: independente de qualquer coisa e por mais estapafúrdio que seja o gosto alheio, temos que respeitar, e sempre.

    Abraços e sucesso no seu blog Roberta!!!

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    1. Com certeza, Wellington!
      Obrigada por prestigiar meu espaço.
      A autora vai adorar os elogios!
      Abração!
      Roberta Nogueira

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  2. Que conto inteligente!

    Adoro histórias que nos deixam mensagens.

    Parabéns pelo blog Roberta!

    Beijos

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    1. Obrigada, Denise! A Dorothy vai adorar seus comentários.
      Seja muito bem-vinda ao Teto! Fique à vontade por aqui, o espaço também é seu, amiga. :)
      Beijos,
      Roberta Nogueira

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  3. Uma graça a Dorothy e muito criativa sua escrita... bj.

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  4. Concordo com você, Gerusa! Rssss... E agradeço o carinho da visita.
    Volte sempre, amiga! Você é sempre bem-vinda aqui no Teto. :)
    Bjsss,
    Roberta Nogueira

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